Não existem coisas como certo ou errado, bem ou mal. Esses são meros conceitos presentes na linguagem do homem, que por sua vez, consiste em um meio de comunicação repleto de vícios. A vida é algo complexo e é muito maior do que costumamos imaginar. Nossa linguagem demonstra um atraso de desenvolvimento espiritual e social que é responsável pelo nosso aprisionamento nessa ilusão de mundo que experienciamos, impedindo nosso avanço e a obtenção de novos entendimentos e visões acerca do universo. Os valores impostos na sociedade transmitem a cada indivíduo uma maneira de corromper a si mesmo, que o leva a absorver os vícios e as energias involutivas de seu ambiente, por meio da linguagem humana. Cresce em si, preconceitos, opiniões, conflitos internos, e principalmente, desenvolve-se o ego. Somos bombardeados o tempo inteiro, desde que nascemos, com o constante caos da vida humana, um estado de permanente confusão e inquietação que nos afasta da real essência do nosso mundo.
Tomar consciência desse fato não é tão difícil. A grande questão mesmo se trata da efetiva aplicação dessa realidade no cotidiano ilusório diário. A parte teórica sempre se revelou mais simples de ser absorvida pelas pessoas em geral, mas a sua respectiva parte prática sempre confere uma nova perspectiva sobre a teoria que passa gradualmente a se apresentar complexa diante das dificuldades de sua aplicação. O que se percebe diante da tomada de consciência sobre a natureza da realidade humana é o desafio que se assume em sua consequência. Como subtrair os vícios recorrentes na sociedade decorrentes da comunicação humana desvirtuosa? Afinal, o ego está desenvolvido em cada um de nós, e ele sempre será responsável pelo retrocesso espiritual do homem, tendo em vista que devido à sua existência infiltrada no espírito humano, há sempre a tendência de nós voltarmos a insistir em nossos próprios erros, apoiando-nos nos valores conceituais presentes na sociedade, que por sua vez, é responsável pelo estímulo à realimentação do ego.
O ego é, portanto, o grande vício do homem. É ele quem é responsável pela ilusão experienciada diariamente que interpretamos como realidade, consequentemente, trata-se do grande causador do sofrimento no indivíduo. Existe uma grande guerra acontecendo dentro de nós mesmos neste exato momento. Trata-se da batalha da nossa consciência contra o ego. Uma criança, quando aflita, temendo a reação de seus pais, tende a esconder sua ação praticada que lhe julga ser inconveniente, tendo em vista o temor em si da possível correção que poderá ser aplicada por quem lhe é responsável. Assim é o ego, que tende a esconder seus defeitos e a consequência de tais defeitos da consciência, criando aquilo que conhecemos como inconsciente, que por sua vez, é como um baú trancado com cadeados que guarda secretamente todas as incriminações do ego.
O nome deste blog não é por acaso. "Ilusões de um espelho vivo" é justamente o que experienciamos nessa existência. É intrigante pensar que justamente aquilo que geralmente apontamos nos outros é algo que apontamos em nossa própria direção. Quando um ego avista outro ego, ele vê a si próprio. A ilusão é de que ele está vendo um outro ego, mas trata-se de si mesmo, com exatamente as mesmas características. Aquilo que criticamos
nos outros é geralmente aquilo que está presente em nós mesmos, mas mal nos damos conta de perceber, justamente porque há uma criança fugindo de sua correção. O ego teme a si mesmo.
Como será que podemos abandonar essa ilusão vestida de realidade? Como podemos nos desfazer de nossos egos? Ainda não tenho a resposta pra isso, mas é isso que busco obter na minha existência. Talvez seja essa um dos grandes propósitos de estar vivo. Sinto-me como um cobaia da vida, e as pessoas são minhas cobaias. Sem dúvida, isso de certa forma é lamentável, mas acredito que eu não seja o único, o que também não retira de mim a responsabilidade por tal sensação e visão de mundo. Acredito que dentro de nós, nosso grande ideal é amar, cuidar e viver bem com aquelas pessoas que estão a nossa volta. Mas o ego atrapalha, e somos também responsáveis por isso.